Voltando ao tema da explosão da plataforma de petróleo no Golfo do México, que causou a morte de 11 trabalhadores e um vazamento de óleo sem precedentes nos EUA, selecionei uma reportagem do jornal Estado de São Paulo para você ler. A reportagem aborda a questão da responsabilidade dos líderes de uma organização quanto aos aspectos relacionados à gestão dos riscos de sua atividade. Observe que no caso de um acidente grave como este, a pressão é enorme e ninguém aceita desculpas do tipo "eu não sabia", "eu não era o responsável pela segurança" e outras semelhantes. Bom, leia e reportagem com calma, retratando o depoimento do CEO da BP no Congresso dos EUA, esta semana.
Executivo-chefe da BP é acusado de negligenciar riscos
17 de junho de 2010 | 21h 14
AE - Agência Estado
Os congressistas dos Estados Unidos afirmaram ao executivo-chefe da British Petroleum (BP), Tony Hayward, não ter encontrado evidências de que ele teria prestado atenção aos riscos que a companhia estava assumindo em relação às decisões que antecederam à explosão da plataforma Deepwater Horizon, que provocou o vazamento de petróleo no Golfo do México. "Não há um único e-mail ou documento indicando que você prestou a mínima atenção nos perigos daquele poço", disse o presidente do Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes, o democrata Henry Waxman, durante a audiência.
Os congressistas perguntaram repetidas vezes a Hayward se a BP havia tomado atalhos durante o processo de isolamento do poço para poupar tempo e dinheiro. O executivo, também por repetidas vezes, negou-se a responder, afirmando que não participou das decisões que culminaram na explosão da plataforma de perfuração Deep Horizon e que é prematuro tirar conclusões até que as investigações sobre o assunto sejam encerradas.
"Acho que você está desconversando. Acho que você está insultando a nossa inteligência e realmente me ofendo com isso", disse o deputado democrata Eliot Engel. Já o deputado republicano Phil Gingrey disse a Hayward que "o dinheiro parava na mesa" do executivo. "Seu depoimento foi evasivo demais."
As críticas feitas pelos deputados sugerem que o acordo firmado entre a BP e a Casa Branca segundo o qual a companhia contribuiria com US$ 20 bilhões para um fundo de indenizações às pessoas afetadas pelo vazamento de óleo no Golfo do México não conseguiu apaziguar a indignação dos membros do Congresso norte-americano com a questão. Segundo estimativas recentes, o poço de Macondo - que seria explorado pela BP - está despejando de 35 mil a 60 mil barris por dia nas águas do Golfo do México. As projeções originais colocavam o vazamento em aproximadamente mil barris de petróleo por dia.
"A resposta que o senhor Hayward nos deu diversas vezes foi ''Eu não sei''", disse o deputado democrata Ed Markey. "É uma resposta inaceitável." Markey disse que os congressistas vão continuar buscando respostas e que a audiência de hoje "foi o início, não o fim deste inquérito". Segundo ele, Hayward será convocado novamente para depôr.
Mecanismo infalível
Hayward admitiu que era "preocupante" o fato de um funcionário da BP ter dito "quem liga" em um e-mail sobre a escassez de partes conhecidas como centralizadores na plataforma Deepwater Horizon. O executivo, no entanto, enfatizou que a companhia contava com o funcionamento de uma válvula que fecharia o poço se houvesse vazamento de gás. Esse dispositivo, conhecido como "blowout preventer", não pôde ser acionado, segundo ele. O deputado democrata Bart Stupak questionou a confiança da BP no mecanismo, afirmando que a companhia modificou o blowout preventer apesar de alertas e que o equipamento deveria ter sido removido em determinado momento de 2009 em razão de defeitos.
Hayward respondeu que o dispositivo deveria ser um mecanismo infalível e a última barreira de defesa. Ele também defendeu outras decisões da BP, como o uso de seis centralizadores em vez de 21, argumentando "não ser sempre verdade que mais é melhor". O executivo disse que a decisão dos funcionários da plataforma de não circular o fluido de perfuração - algo que os investigadores do Congresso avaliaram como questionável - "não era incomum na indústria" e havia sido aprovada por reguladores federais.
Além disso, de acordo com Hayward, nenhuma regra exige que as empresas testem a liga do cimento utilizado para selar poços. A Halliburton afirmou que esse teste era a única forma de garantir a qualidade desse tipo de serviço. Segundo o executivo, nada do que ele viu "sugere que alguém colocou os custos antes da segurança", embora ele tenha admitido que, caso isso seja comprovado, "tomaremos medidas" contra os funcionários que fizeram isso. Nenhum funcionário foi demitido até o momento por conta da explosão, de acordo com Hayward. As informações são da Dow Jones.
Muito interessante a reportagem. Se algum funcionário for demitido, será injustiça se o próprio CEO tambem não for. Roberto Emery
ResponderExcluir